Publicado em 10/10/2016

Na tarde de ontem, dia 9, ocorreu a exibição do longa-metragem documentário Então morri, no CCBB como parte do Cine Encontro. Dirigido pela veterana do teatro Bia Lessa e por seu marido, o ator, músico e diretor Dany Roland, a sessão foi seguida de debate. O evento contou com as presenças de Patrícia Schumann, personagem do documentário, Rose Schumann, sua mãe adotiva e também personagem, Vera Figueiredo, produtora, e Roberto Celidônio, produtor e técnico de som, além de ambos os diretores. A mesa foi mediada por Carlos Alberto Mattos, jornalista e crítico de cinema.

Então morri percorre diversas cidades do Brasil, centrando-se no Nordeste e capturando rituais de passagem comuns à cultura brasileira. O filme, que dá especial atenção à participação feminina nessas cerimônias, abre com cenas de preparações para um velório e conclui com o nascimento de Patrícia Schumann e sua adoção por Rose Schumann.

Mattos iniciou o debate pontuando seu desagrado com o atual governo federal, o que teve coro na mesa e em grande parte do público. Logo depois, exaltou a qualidade da obra, cuja grandeza, segundo ele, se constrói pelo tão profundo retrato do Brasil somado à marca das personagens femininas, suas vivências, ritos e diversidades.

Sobre a demora para a finalização do filme, que foi gravado em 1997, Lessa contou que o material bruto totalizava quinhentas horas e que foi necessária certa distância para que os realizadores pudessem abrir mão de tantas histórias incríveis a fim de conseguir montar uma só. A equipe revelou as dificuldades da trajetória: a produtora, Figueiredo, mapeava cidades do Brasil que pudessem recebê-los com a intenção de registrar casamentos, velórios, festas de aniversário etc; Celidônio ressaltou as adversidades na captura do som direto: era tudo muito rápido e todos os membros da equipe deveriam permanecer despercebidos naqueles locais.

O vigor das presenças femininas foi notado em diversos momentos do debate, tanto por Mattos quanto pelo público. Lessa contou que inicialmente o filme não pretendia ter por foco especificamente as mulheres, mas os rituais e cerimônias, contudo durante o processo a obra acabou se centrando nessas personagens femininas. “As coisas masculinas não tinham graça. Era tudo muito chato. As mulheres eram sempre mais ricas”, Roland afirmou.

Patrícia Schumann, que hoje tem dezenove anos e teve seu nascimento registrado na sequência final do documentário, contou que nada sabia do destino dessas imagens e que no final do ano passado iniciou uma busca para tentar encontrar Lessa e Roland. A dupla de diretores revelou que, surpreendentemente, no dia em que Lessa finalizou a montagem, Schumann conseguiu contactá-los e os dois não contiveram os ânimos. Ao final do debate, a moça expressou sua grande emoção por estar presente e ver todo o registro do início da sua história no filme, que foi, inclusive, seu primeiro contato com sua mãe biológica.

Texto: Mariana de Melo

Fotos: Christian Rodrigues




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