Publicado em 05/10/2014

Hamlet, de Christiano Burlan, foi debatido ontem, dia 4 de outubro, no Cine Encontro no Centro Cultural Justiça Federal (CCJF). A mesa foi mediada por Sergio Mota, professor de Comunicação Social da PUC-Rio, e contou com a presença do diretor e de grande parte do elenco.

O filme é uma livre adaptação da famosa peça Hamlet, de William Shakespeare. A peça conta a história de um jovem, que, após o assassinato de seu pai por seu tio, atormenta-se por questionamentos existencialistas. O longa foi fotografado em preto e branco e tem por cenário a cidade de São Paulo.

Mota abriu o debate mencionando a interessante utilização de múltiplas camadas narrativas pelo diretor, já que o filme apresenta em seu bojo cenas de teatro filmado e encenações de rua em São Paulo, por exemplo. Mota colocou também que o princípio criativo do filme é um princípio de desprogramação.

Burlan agradeceu a presença da plateia e ressaltou a importância do debate entre diretores e espectadores para o cinema. O diretor contou que a realização do longa foi um processo coletivo, lembrando que o roteiro foi feito em parceria com o ator Henrique Zanoni. Além disso, revelou que seu intuito era fazer uma desconstrução da peça. Isso se nota em vários elementos, como figurino, cenário e alguns diálogos.

O diretor ressaltou também a importância do diálogo entre ator e diretor para a realização do filme, apontando que, para ele, é preciso dar liberdade à interpretação. Seu processo de filmagens envolve uma primeira tomada em que os atores têm total liberdade e, caso essa não seja satisfatória, uma segunda, esta sim com indicações do diretor.

Jean-Claude Bernardet, crítico de cinema e ator do filme, falou sobre o fato de não ser um ator formado academicamente, e explicou como isso influencia sua atuação. Ele se disse pouco interessado no personagem em si, em construir seu caráter psicológico. Seu foco é a tensão do corpo, a intensidade do olhar, e por isso se considera um ator com tendências performáticas.

Bernardet colocou também que Burlan passa poucas informações para os atores: esse desafio desenvolve um diálogo não verbal com o diretor e “dá um vigor à cena”, segundo ele.

A parceria criativa entre Burlan e Zanoni foi ressaltada pelo ator, já que este é o terceiro filme que fazem juntos. Zanoni disse também que uma das coisas que o motivaram a fazer o papel foi uma fala de Burlan: “Eu não quero que você faça o Hamlet. Quero achá-lo em você”.

O elenco se mostrou muito feliz com o longa, com cada um recordando cenas que gostaram de interpretar. Todos ressaltaram a importância do diálogo diretor-ator e do desafio proporcionado pela liberdade que tinham na atuação.

O debate se encerrou com a fala do ator Gustavo Canovas, que definiu Hamlet como um filme difícil para quem está acostumado apenas com o cinema comercial. Canovas disse ainda que a obra está aberta para diversas interpretações. “Cada vez que eu assisto ao filme, sinto algo diferente”.

Texto: Julia Asenjo

Fotos: Giulia Accorsi




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