Publicado em 16/10/2022

O derradeiro debate da Première Brasil do Festival do Rio 2022 foi sobre Mato Seco em Chamas. Os diretores Adirley Queirós e Joana Pimenta subiram ao palco do Cine Odeon no sábado (15) ao lado dos atores Joana Darc Furtado, Andreia Vieira, Léa Alves e Rafael Villas Bôas. O bate-papo teve mediação da professora Ivana Bentes.

Joana começou falando dos dezoito meses de filmagem da produção e da inspiração na promessa do pré-sal e na imaginação de como seria se alguém furasse o chão e achasse petróleo nos dias de hoje. “Não é a ideia do petróleo é ‘nosso’, é a ideia do petróleo é ‘de nós’ [...]. Uma apropriação de uma ideia de nacionalização, de um enfrentamento interno contra essa ideia de nacionalização”, complementou Adirley. O filme ganha corpo, porém, a partir do momento que eles filmam sem se prender ao que foi idealizado, deixando outro surgir. Segundo o cineasta, foi tudo muito dinâmico, disputando o imaginário do dia de cada filmagem.

Na sequência, as atrizes não profissionais contaram como entraram no projeto. Joana Darc, que vive a líder Chitara, chegou aos cineastas por indicação o e contou que sua vida se encaixou com o que eles buscavam. Sua irmã, Léa, ficou presa sete anos e entrou no projeto ao sair do cárcere. Ela considerou a experiência maravilhosa e disse que está muito feliz em sua nova trajetória e grata pela oportunidade.

Andreia já tinha feito Era uma Vez Brasília (2017), outro filme de Adirley – que, de acordo com ela, “parece que gosta do povo preso” –, e conhecia Léa da prisão. Ela chamou os diretores de surpreendentes, pois afirmaram que ela daria conta do papel de candidata aliada dos motociclistas mesmo sem saber de política ou de pilotar moto na vida real. E deu, tanto que na hora da gravação Andreia até se sentia deputada mesmo, e foi uma das compositoras do jingle da personagem.

Rafael revelou que o núcleo militar do longa, do qual faz parte, é composto por vários militantes do MST, e que foi incrível fazer uma obra que contesta o poder autoritário em vigor e é uma farsa sarcástica. Adirley comentou do interesse em pensar quem é o povo evangélico da periferia e explicou que tudo é negociado e ninguém é surpreendido em seus trabalhos, pois o filme é explicado para todos os envolvidos.

Texto: Taiani Mendes
Foto: Jennifer Oyarce



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