Publicado em 10/10/2022

O segundo dia de debates da Première Brasil teve início neste domingo (09) com o filme Não É a Primeira Vez que Lutamos pelo Nosso Amor. Mediada por Bruno F. Duarte, a conversa contou com as participações do diretor do documentário, Luis Carlos de Alencar, das personagens Yone Lindgren e Jaqueline Gomes de Jesus, da pesquisadora Alessandra Schimite, da diretora de fotografia Paula Monte e da produtora Sil Azevedo.

Em seu comentário inicial, Bruno contou que só conseguia pensar na palavra “regeneração” e elogiou a abordagem histórica da luta LGBTQIA+ conectada com a América Latina e os movimentos sociais. Explicando as origens do projeto, o cineasta Luis Carlos de Alencar contou da elaboração de uma série voltada para a colocação de outros sujeitos políticos no centro do debate antiautoritário.

Sem conseguir vender a série, ele pegou alguns episódios e transformou no longa-metragem. “O que a gente tentou alinhavar foi um debate onde, a partir da discussão de desejo, da dissidência, da divergência de gênero e sexualidade, a gente pode ter um potencial libertário, uma proposta de sociedade a partir dali”, comentou o realizador, observando o quanto o irrita a tentativa de despolitização, desqualificação e despotencialização da questão racial, sexual e de gênero. Seu objetivo é que o longa reative o imaginário político radical e mobilize uma luta para além da conjuntura, reinventando a esquerda.

Pesquisadora de imagem e arquivo, Alessandra Schimite compartilhou que enfrentou muitas dificuldades no trabalho por problemas burocráticos e pelo apagamento das memórias e registros. Por outro lado, a produção foi abraçada por vários cineastas que cederam seus materiais.

Produtora local do doc na Bahia, Sil Azevedo disse esperar que o público seja inspirado pela obra a criar espaços, filmes e laços para não perder as conquistas LGBTQIA+ feitas até hoje. Na mesma linha, Paula Monte, aqui em seu primeiro longa como diretora de fotografia, mencionou que Não É a Primeira Vez que Lutamos pelo Nosso Amor traz o lugar da ancestralidade e da conversa fundamental com quem veio antes.

O debate foi enriquecido por falas das entrevistadas Yone Lindgren e Jaqueline Gomes de Jesus, e de Rosangela Castro, que também fez parte do levante retratado e subiu ao palco do Odeon para contar parte de sua trajetória de resistência e mencionar que as lésbicas continuam invisíveis nas questões de saúde e segurança. Yone exaltou a importância das travestis no movimento e Jaqueline encerrou o emocionante bate-papo citando a poeta Safo de Lesbos – “alguém um dia ainda se lembrará de nós” – e Paulo Leminski – “essa coisa da gente ser exatamente aquilo que a gente é, ainda vai nos levar além” –, além de destacar que “sem afetação não tem transformação”.

Texto: Taiani Mendes
Foto: Francisco Ferraz



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